Começo por voltar ao CAT, o Centro de Atendimento Temporário
de crianças e jovens em risco, de Viseu, que fiquei a conhecer no
fim-de-semana e não me sai da cabeça por mil e uma razões que
passo a explicar. Primeiro, pela incontornável realidade de acolher
bebés e crianças muito pequenas que foram retiradas aos pais e
famílias por serem maltratadas ou negligenciadas. Dói sempre a
certeza de que estas crianças não foram amadas e foram rejeitadas.
Nestes berços estão deitados bebés muito pequenos que os
pais não foram capazes de amar nem cuidar, e impressiona
olhar para eles por serem tão queridos, tão frágeis e ainda tão
carentes de amor e cuidados. Comoveu-me este CAT por ser
um espaço tão familiar onde se sente o carinho e todo o amor
que uma equipa inteira de profissionais dão aos mais frágeis.
Olhar para as carinhas dos bebés, tocar nas suas mãos, sentir
o seu cheiro e a sua pele, ver como olham com os seus olhos
inocentes para um mundo por vezes tão adverso e cruel, enche
de ternura e, ao mesmo tempo, de frustração. Todos nós os da
equipa MEP-Europa que visitámos esta instituição, ficámos de
lágrimas nos olhos pela maravilha de trabalho que é feito com
estas crianças mas também pela dor e sofrimentos passados.
Tudo no ambiente deste CAT é tranquilo e bonito. Já visitei
muitos centros desta natureza e foram raros os que vi tão
bem cuidados, tão luminosos e tão familiares. A beleza da
casa onde se recebem crianças em risco importa muito até
porque estas crianças sentem e absorvem o que anda no ar.
Aqui todos os pormenores contam e foram muito pensados.
Até a arrumação das roupas e os armários onde se guarda
tudo o que outros oferecem a estas crianças está impecável.
Dá gosto ver uma ''casa de família'' onde há 22 ''filhos'' com
tudo tão em ordem. A organização e a arrumação importam!
Do outro lado da casa existe uma sala ampla e arejada onde
as crianças brincam e se entretêm fora das horas de aulas e
onde os voluntários dão apoio nas brincadeiras mas também
nos estudos dos que já andam na escola. Há crianças com
idades compreendidas entre os 0 e os 6 anos e, por isso, há
as que vão à escola e começam a aprender a ler e escrever.
Apetece estar nesta sala colorida, divertida, onde há muito
espaço para brincadeiras. Este palhaço foi feito por todos
e agora vive encostado a uma das janelas que dão para o
pátio lá fora. Sobre este pátio gostava de dizer duas coisas.
A primeira é que é um pátio enorme e tentador para aproveitar
como recreio para estas crianças brincarem. A segunda é que
não é possível deixar as crianças ir para o pátio porque há lá
dois tanques enormes, com água, onde se poderiam afogar
em menos de dois minutos. É uma pena que estes tanques
permaneçam ali sem destino, a impedir estas crianças de ter
um espaço ao ar livre para brincarem e crescerem mais livres.
Vou escrever uma carta ao presidente da Câmara de Viseu a
falar destes tanques e a perguntar se se pode fazer alguma
coisa em breve. Bastaria esvaziá-los e cobri-los de terra ou
areia para criar ali um parque de diversões. Não me parece
impossível e tenho a certeza de que está ao alcance da CMV
fazer qualquer coisa que potencie o bem-estar das crianças.
Finalmente gostava de deixar aqui umas linhas à Drª Paula
Menezes, a directora do CAT de Viseu que me marcou pela
atitude positiva, pelo sorriso permanente (e contagiante) e
pela sensibilidade e ternura com que fala de cada uma das
'suas' 22 crianças. Não conseguirei nunca agradecer-lhe o
suficiente por ser esta luz no mundo e por devolver aos mais
frágeis o sorriso e a confiança na vida. E a dignidade também!
Toda a equipa MEP-Europa saiu desta pequena-grande casa
comovida e grata por nos terem aberto as portas e nos terem
feito sentir em casa. A Drª Paula Menezes tem a minha idade
(47 anos) e vive inteiramente dedicada a todos estes ''filhos''
e sublinho aqui a minha profunda admiração pela maneira
como exerce esta forma tão generosa de maternidade. Dar
colo a quem não tem colo, encher de mimos quem nunca os
teve, cuidar, abraçar, alimentar, vestir e educar bebés e crianças
cujo passado foi todo vivido em dor e abandono é muito mais
do que um trabalho. É uma verdadeira missão! Muito obrigada.
E termino este longo post com a imagem da entrada do CAT
da Misericórdia de Viseu, como uma breve despedida de quem
sabe que pode voltar mais vezes porque a porta estará sempre
aberta. Quem me dera poder ajudar e quem me dera que os 2
tanques de pedra do pátio deixem de existir muito em breve!